Escola Humana

Como Evitar Preocupações e Começar a Viver – Uma análise ao Livro de Dale Carnegie

Queremos passar a vida a perder o nosso tempo? A maioria responderia convictamente: não. Mas é o que provavelmente estamos a fazer, ou já o fizemos hoje, esta semana, senão toda a vida.

Uma pessoa pode atingir um tal nível de stress, aflição e preocupação que literalmente chega a morrer disso.

A questão aqui é mesmo essa: devemos e preferimos literalmente indo provocando a nossa morte porque nos parece ser difícil mudar, ou preferimos…

Viver.

É disso que se trata o livro de Dale Carnegie: Como Evitar Preocupações e Começar a Viver.

É maravilhoso porque o livro tem tanto de prático como, segundo o próprio Carnegie, tudo o que na verdade já ouvimos. Porque não fazemos nós o que sabemos que devemos fazer para nosso bem?

Uma das histórias partilhadas pelo livro é a de John Rockefeller e retrata muitos dos princípios que Carnegie espera que aprendamos.

Rockefeller passou de besta a bestial, mas não foi num segundo. Levou 50 anos a chegar lá. Ia morrendo de preocupações ou, neste caso, mumificando, dado ser esse o seu aspeto aos 53 anos, segundo John Winkler, um dos seus biógrafos. Era o homem mais rico do mundo. Ganhava um milhão de dólares – semanais. No entanto, “era tão grave o seu estado que chegou a ser obrigado a alimentar-se apenas de leite humano pelos médicos”. Sim, isso mesmo.

Já aos 23 anos e até às 53 primaveras, nada o alegrava como a notícia de que tinha feito um bom negócio. Quando conseguia grandes lucros atirava-se a uma dança guerreira. Ridícula, como é possível supor pela descrição feita no livro. O que prova, ainda assim, que, apesar de tudo, era um ser humano como todos nós.

Mas, se por acaso perdia dinheiro, ficava doente. Podemos ser flexíveis e pensar: certo, também ficaríamos. Talvez.

Quando despachou 40.000 USD de cereais não fazendo nenhum seguro pois era muito caro: 150 USD, nessa noite uma tempestade desabou. Rockefeller estava tão preocupado que incitou o sócio a tentar fazer um seguro com a máxima urgência, rezando para que não fosse tarde demais, o que ele conseguiu! Mas encontrou-o depois furioso. Havia recebido um telegrama a dizer que a carga, apesar da tempestade, tinha chegado ao seu destino em perfeitas condições. Alívio é o que estaríamos a sentir caso estivéssemos à beira de perder tanto dinheiro. Rockefeller, não. Tinha desperdiçado 150 USD em vão. Segundo o relato, ficou tão doente que teve de ir para casa meter-se na cama e convalescer!

Com milhões à disposição, afirmou ter diariamente dito a si próprio que o seu sucesso poderia ser apenas temporário. Era louco por dinheiro, segundo os mais próximos. Isso arruinou-lhe a saúde. No auge da prosperidade, com o ouro a fluir para os seus cofres como lava quente escorrendo pelos flancos do Vesúvio (boa metáfora Carnegie!), a gigantesca Standard Oil Company foi denunciada publicamente por atos ilegais. Odiavam-no.

Os médicos disseram-lhe então que tinha de escolher o dinheiro e as preocupações ou a própria vida. Deram-lhe 3 regras que ele seguiu até falecer:

  1. não se preocupar com coisa alguma, independentemente das circunstâncias
  2. repousar praticando muito exercício suave ao ar livre
  3. cuidar e manter a dieta, interrompendo sempre as refeições quando estivesse ainda com um pouco de fome

Aposentou-se, aprendeu a jogar golfe, conversava com os vizinhos, cantava. Começou a pensar no próximo. Criou a fundação internacional Rockefeller Foundation, destinada a combater várias doenças e falta de conhecimentos mundialmente.

Quando a Standard Oil perdeu e foi obrigada a pagar a maior multa da história, respondeu ao advogado: “Não se preocupe mister Johnson, pretendo dormir bem e o senhor não se incomode também com isso, boa noite”. Dito por alguém que ficara de cama por perder 150 USD.

Aos 53 anos estava literalmente a morrer de ansiedade e stress. Depois, viveu – viveu – até aos 98.

Teria ele noção do que eram 150 USD à luz dos seus milhares ou dos infortúnios mais horríficos de outros seres humanos? Sim. Rockefeller tinha noção pois, para ele, esses “150 USD” eram os infortúnios da vida dele. Era por medo de perder dinheiro que ficava doente.

Os inúmeros relatos que nos conta Carnegie são de pessoas com as mais diversas histórias de vida, que podemos julgar serem de maior ou menor relevância. Alguma faz-nos chegar ao clique que precisamos para aprender.

É nisto que, como coach, aplaudo o livro – ensina-nos, nem que seja por termos de nos render à evidência, que este é um problema de todos, qualquer que seja a nossa vida e/ou a importância relativa que damos a nós próprios.

De alguma maneira o nosso cérebro parece assimilar essas diversas preocupações e resoluções alheias. Tanto que acabamos por nos dar conta de, no meio da rua, dizermos a nós próprios: “isso não é para agora”“pára e respira”“não vou prejudicar a minha saúde por causa disso”. É maravilhosamente hilariante. O que é o mesmo que dizer que resulta, que damos por nós a seguir estes novos velhos hábitos. Sem grande dificuldade ou, pelo menos, com menos dificuldade do que a que tivemos até então!

Como exemplo, aqui fica um hábito que até Rockefeller praticava e, finalmente, com esta leitura, entrou na minha cabeça e irei praticar sem culpas: quem descansa, estica-se, relaxa, dorme, ou mesmo rebola no chão, durante o período de trabalho, como forma de pausa? Quem?

Esta estratégia não só nos serve à nossa saúde, como à nossa produtividade! Se um trabalhador carrega 47 toneladas de ferro bruto por dia porque trabalha 26 minutos por hora

– estamos a falar de carregar 4 vezes mais que os restantes a trabalhar da forma “usual”;

– ele literalmente descansa mais do que trabalha! Se até Rockefeller fazia uma sesta diária no escritório que nem o presidente dos Estados Unidos podia interromper, perdoem-me a assertividade, também o podemos fazer: gerir-nos e estarmos atentos às nossas necessidades, para bem da nossa eficiência a médio e longo prazo.

No livro de Daniel Josselyn, Why Be Tired, ele observa que “o descanso não é uma questão de não se fazer nada; é reparação”. Em que se traduz isso? Cabeça e corpo preparados para trabalhar com mais foco e utilidade. É-nos não só permitido, como obrigatório! Nem sempre podemos dormir, claro, mas podemos arranjar estratégias para relaxar em vez de continuar a teimar que a vida, e o trabalho, são assim. Se puder rebolar pelo chão, tanto melhor! Ocorreu-me agora que as empresas deviam ter corredores amplos só para isso, imaginem!

Aprendemos com Carnegie que descansar, ou até dormir no trabalho, nos pode fazer ganhar tempo, não perder. A importância óbvia de descansar antes de nos cansarmos. Como a preocupação com a insónia nos pode causar mais danos do que a própria. A ansiedade de ter mil coisas na mesa para despachar, literal e figurativamente, e como aprender a fazer as coisas pela ordem da sua importância.

Carnegie reforça também que o medo causa preocupação, podendo levar a indigestões nervosas, úlceras no estômago, problemas cardíacos, enxaquecas… O medo, ódio, egoísmo extremo, incapacidade de nos adaptarmos ao mundo real, são das causas mais frequentes de úlceras estomacais, segundo um estudo da Clínica Mayo que incluiu 15.500 doentes. Quantas vezes as doenças desaparecem quando deixamos de nos preocupar e vivemos finalmente a nossa vida com a paz de espírito que merecemos, em vez de a consumirmos de dentro para fora? “A úlceras frequentemente aparecem ou cessam de acordo com as colinas da nossa tensão emocional.”: Dr. Alvarez, da Clínica Mayo.

Façamos como Montaigne, o ilustre filósofo, que quando eleito para governar Bordeaux declarou: “Desejo tomar os vossos negócios em minhas mãos, mas não no fígado.” Naufrágios matrimoniais, desastres financeiros, sofrimentos morais, solidão, ressentimentos prolongados, são causas frequentes de reumatismo, segundo o Dr. Russell Cecil.

Eis vários dos princípios abordados a respeito das preocupações:

  1. Lembrar-se do preço exorbitante que podemos pagar em termos de saúde.
  • “Viva em compartimentos diários hermeticamente fechados”.

O que não seja para resolver imediatamente impede-nos de fazermos do hoje a nossa vida, trazendo-nos uma inquietação que impede de pensar, sentir, progredir.

  • Ao sentirmo-nos assoberbados por uma preocupação muito séria, devemos:
  • Perguntar-nos: “Qual a pior coisa que me poderá acontecer, se não conseguir resolver o problema?” – parar para enfrentar as coisas como elas são é o primeiro passo para não andarmos como as pescadinhas de rabo na boca e tornarmos a situação pior do que ela já é;
  • Preparar-nos mentalmente para aceitar o pior, caso isso venha a ser necessário – aceitar as possíveis consequências permite-nos sair do desespero que estamos a sentir, bem como ter plena consciência que o pior poderá ou não acontecer;
  • Calmamente procuramos resolver a situação – partindo do pior que já concordámos aceitar.
  • Varra as preocupações ocupando-se: ação é uma das melhores terapias.
  • Não faça uma tempestade num copo de água; não permita coisas insignificantes arruinarem a sua felicidade.
  • Coopere com o inevitável se algo está além do seu poder para modificá-lo. Diga: assim é, não pode ser de outra maneira.
  • Aplique-lhes uma ordem de stop loss. Determine até que ponto uma coisa merece que se preocupe com ela e recuse-se a pagar mais.
  • Deixe o passado enterrar os mortos.

Ninguém sonharia tentar voltar 180 milhões de anos atrás para modificar o curso da extinção dos dinossauros. Contudo, tal não seria mais insensato do que preocuparmo- nos modificar o que aconteceu há 180 segundos. Só há um meio de fazer com que o passado possa ser construtivo: analisarmos e tirarmos proveito dos nossos erros e esquecê-los.

  • Mesmo que lêssemos tudo que já foi escrito a respeito pelos grandes eruditos, jamais encontraríamos algo mais essencial do que provérbios como – não queira pôr o carro na frente dos bois ou não chore por leite derramado.

Carnegie chega a afirmar que se puséssemos em prática estes dois provérbios, em vez de os ignorar, não teríamos necessidade de ler o seu livro.

Considero ainda extremamente útil a seguinte sequência, a qual deve tornar-se um hábito – quando não a aplicamos normalmente resulta em ansiedade e não atingirmos os nossos objetivos (foco essencial no coaching).

Escrevam-na!

  1. Por que motivo me preocupo?
  • Que possíveis opções tenho? Reúna os factos primeiro: ocupe o tempo a recolhê-los de forma objetiva, em vez de tentar decidir angustiantemente, sem ter uma visão clara da situação.
  • Analise-os cuidadosamente.
  • Tome uma decisão.
  • Aja de acordo com a decisão, imediatamente.

Este artigo pretende chamar a atenção para algumas estratégias relevantes que, se aplicadas, segundo Carnegie, alterarão:

  • A nossa mentalidade;
    • Como nos apresentamos ao mundo, pessoal e profissionalmente;
    • Reagimos às nossas preocupações, às dos que nos rodeiam e suas atitudes;
    • O que, consequentemente, acaba por refletir-se no curso da nossa vida.

Mudando a eficiência com que atingimos objetivos e nos expomos ao mundo, pressupõe que a nossa vida possa mudar. O fundamental é treinarmos , para que possamos obter resultados já amanhã.

Este é um livro com objetivos práticos. Não se preocupem. Pratiquem!

Artigo de: Ana Cláudia Manata / Coach
Artigo com base no Livro Como Evitar Preocupações e Começar a Viver, de Dale Carnegie.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

arrow-up